sexta-feira, abril 18, 2008




Amigos, não gosto muito do Jabour, mas este comentário dele hj na CBN me incomodou, causou em mim um desconforto, rasgou diante dos meus olhos, MAIS UMA VEZ (não só ele, mas o que tenho lido e visto sobre), o véu que descortina e escancara a vergonha que são essas politicas públicas populistas e "darwinistas" que o governo atual insiste em querer chamar de políticas afirmativas.
O Sóciologo, que ele cita, se alguém souber, indique-me, pq quero muito ler este artigo.

Abraço a todos

sexta-feira, abril 11, 2008

relativismo e neo-liberalismo, irmãos gêmeos!


Eu cansei dessa pasmasseira de "cada um é cada um"!
Cansei de um Brasil sem história, que corrompe do menor ao maior!
Eu não aguento mais discursos vasios, lotados de ideologias libertárias que em si mesmas findam.
Eu estou de saco cheio de teologias liberais, padres e pastores em favor de classes menos favorecidas, quando em verdade, usam e abusam de assistencialismos baratos e alienantes.
Acho uma banalidade, aquelas leis de incentivo que vendem cultura, entreterimento e esporte pra uma massa de consumidores famintos do nada.
Não quero mais perder meu tempo com conversas fúteis, filosofias vãs e um mundo de coisas que de coisas nada têm.
Quero um Cristo. Aquele que mudo como um cordeiro no matadouro se entregou, que ao Pai disse pra nos perdoar porque não sabemos o que fazemos.
Quero amigos e irmãos integrais, não esquizofrênicos, frutos de um tempo qualquer, soltos ao vento e sujeitos à libertinagem.
Insisto em não querer aceitar pessoas passivas que das instituições esperam tudo e continuam "amebantes" ansiosas pelo pôr do Sol.
O fim em si mesmo é monótono, depravado, pernisioso e deprimente.

Amo, por incrível que pareça, amo!
Amo, amo todos e por isso escrevo com muito pesar!
O Amor, o Verdadeiro Amor não acaba, não tem passividade e nem é chato.
Ao contrário ele constrange, incomoda e gera dor.

Ao Cristo, aquele que nada relativisou, convido meus amigos a voltarem.
Somente as Escrituras bastam!

quinta-feira, abril 03, 2008

Na revista Piauí deste mês...abril


NOVOS PECADOS, UMA BREVE HISTÓRIA


João M. Salles


Ao ler os jornais no dia 11 de março, o diabo suspirou e começou a contratar. Estava ali, em letras garrafais: “Igreja alerta para sete novos pecados.” Eram “pecados sociais”, um leque de desaforos a Deus que abarcava práticas como a injustiça social e a poluição do meio ambiente. Perguntou à secretária se o RH não poderia apressar a promoção daquela trinca de novatos: Saddam, Slobodan e aquele chileno, o Augusto. Com a Cúria Romana anunciando mais vícios do que o Inferno costumava processar, era urgente uma reengenharia na cadeia produtiva dos suplícios. Por exemplo: a gordinha que até outro dia se enquadrava apenas no pecado da gula agora teria a pena revista; se não reciclasse os sacos plásticos que o supermercado lhe dava para carregar os carboidratos, o caso se complicaria: seria autuada por pecado de crime ambiental. Os teólogos perderam o estilo. “Tomem Ira”, soltou o diabo, “palavrinha eloqüente, digna de figurar nas melhores listas de pecado. Já ‘violação de direitos fundamentais da natureza humana’?!” Hedonista e esteta, ele apreciava os sete pecados capitais, que achava concisos e elegantes: um substantivo para cada tropeção moral. No topo da página em que atentara para a novidade infernal, havia uma segunda manchete. Leu-a em voz alta: “Governador de Nova York usou serviço de prostituição.” Luxúria. Cristalino. Uma beleza. O código penal do Inferno é uma obra monumental construída em torno das noções de culpa e castigo. (Não se fala em perdão, apanágio do Purgatório.) Na tradição cristã, pecado é uma violação da norma divina. É uma resposta negativa a Deus. A partir daí, reina a confusão. Vai-se relativamente bem até pecados mortais e veniais, mas na hora dos pecados capitais o pessoal mete os pés pelas mãos. A noção de pecado se realiza perfeitamente no pecado mortal, violação tão grave que acarreta a morte da alma, ou seja, a ruptura do indivíduo com Deus. Nele, três condições devem ser satisfeitas: matéria grave, conhecimento de causa e empenho da vontade. Quem assassina de caso pensado comete pecado mortal. Quem usa a razão para negar Deus, também. Pecado venial seria uma transgressão que não chega a abalar a aliança entre Deus e o homem, o qual, portanto, alcança o perdão (venia) com relativa facilidade. A doutrina estabelece que o pecado venial justifica uma punição temporária no Purgatório, palavra formada pelo adjetivo purus (“puro”) e o verbo agere (“tornar”). Já o pecado mortal, se não confessado, arrependido e penitenciado, leva o pecador para o Inferno, onde não cabe recurso da sentença. Os teólogos contemporâneos não ligam muito para isso. Preferem sublinhar, no pecado, a liberdade do pecador. Somos livres para agir, e a gravidade de um pecado é diretamente proporcional ao grau de liberdade com que é praticado. Nenhum pecado mortal pode ser cometido acidentalmente. É sempre voluntário. Pecado capital é outra coisa. São mais vícios que pecados, são inclinações do caráter que ameaçam a harmonia com Deus. Tanto assim que, em Dante, quem os cometeu está no Purgatório, não no Inferno. A própria geografia do Purgatório reflete os sete pecados capitais: uma montanha com sete terraços, cada qual dedicado a um pecado. Embaixo, perto do Inferno, ficam os orgulhosos, que vivem sob a perigosa ilusão de se bastarem a si mesmos; no alto, mais perto do Céu, os que sucumbiram à luxúria, que bem ou mal é um vício no qual está contida uma semente de amor. A enumeração dos pecados capitais tem origem no monasticismo oriental. No século V, João Cassiano introduziu a prática no Ocidente e trouxe consigo as listas, cuja função era determinar comportamentos lesivos à vida monástica. Dois séculos mais tarde, Gregório I modificou esse rol, e, como distinguia entre orgulho e soberba, eram oito os pecados. Tomás de Aquino fundiu orgulho e soberba e chegou aos sete que conhecemos: soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça. Chamou-os capitais – do latim caput, “cabeça” – por considerá-los a fonte de todos os pecados. Por essas e outras é que o diabo impreca contra os poderes eclesiásticos. Quando se fala em pecados, de que lista mesmo estamos falando? A primeira, é óbvio, nasce da transgressão dos Dez Mandamentos, cada um deles implicando inúmeros pecados. “Não desejarás a mulher do próximo”, por exemplo, se desdobra em adultério, divórcio, fornicação, pornografia, prostituição, estupro, homossexualismo, incesto e masturbação. No Novo Testamento, Paulo relaciona dezessete pecados mortais: “Adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias.” Há os pecados contra a fé (incredulidade de Deus e heresia), contra a esperança (desespero obstinado quanto à salvação ou presunção de poder viver sem Deus e alcançar sozinho a redenção) e contra o amor (ingratidão, ódio a Deus, indiferença à caridade). Existem os quatro pecados que não ofendem somente a Deus, mas também ao homem. São os “pecados que clamam aos céus por vingança”, igualmente mortais: homicídio, pecado de impureza contra a natureza (sodomia e homossexualismo), aproveitar-se dos pobres e defraudar o trabalhador do seu salário. É uma situação verdadeiramente inflacionária. No ano passado, o Vaticano já publicara uma espécie de Dez Mandamentos para motoristas: não se irritar na direção, não dirigir bêbado e outras platitudes. Agora o católico tem de se haver com mais um revisionismo. Pelo menos, foi o que se leu na imprensa mundial. A notícia se espalhou ao ser publicada no site do Times de Londres: “Depois de 1 500 anos, o Vaticano atualizou os sete pecados mortais, arrolando outros sete adequados aos tempos da globalização.” A informação vinha de uma entrevista dada na véspera pelo bispo Gianfranco Girotti ao L’Osservatore Romano, jornal oficial do Vaticano. “Monsenhor Girotti, responsável pela Penitenciaria Apostólica, foi perguntado sobre quais seriam os novos pecados”, publicou o New York Times. Do outro lado do mundo, o Hindustan Times anunciava que o responsável pela Penitenciaria – um dos três tribunais da Cúria Romana, encarregado de julgar matérias de consciência (como pecados, confissões, sacrilégios) e indulgências – teria dito que, agora, a alma dos cientistas genéticos e dos obscenamente ricos iria para o Inferno. O Pravda repetiu a dose, substituindo apenas “obscenamente ricos” por “oligarcas”. Um tanto confuso, o diabo decidiu consultar um especialista. Deu uma espiada na lista VIP dos danados e mandou chamar Torquemada. O inquisidor-geral correu os olhos pelos jornais e, com uma ponta de tédio, disse: “Bobagem. Entrevista de funcionário do Vaticano não proclama doutrina. Os pecados serão sempre os mesmos, o que há são derivações. Girotti se referia à necessidade de recuperar o sentido do pecado. Falou num seminário sobre a crise da confissão. Boa parte dos católicos se desobrigou desse sacramento. E você bem sabe: sem confissão, todo mundo vem parar aqui. O bispo não falou em sete pecados. Apenas mencionou, e superficialmente, a bioética, as drogas, a injustiça social e a ecologia como temas que merecem a atenção dos católicos. Mais não disse.” Com um floreio de mão, Torquemada jogou o jornal na mesa e, já dando as costas, comentou: “Esse Girotti eu conheço. Ele deu umas declarações sobre a importância de convocar exorcistas no caso de fenômenos agenciados aqui pela casa. É uma área do meu interesse. Não é ele o responsável pela Penitenciaria Apostólica. O penitencieiro-mor é um cardeal americano. Girotti é apenas o segundo da hierarquia.” O diabo se virou para a secretária e instruiu: “Manda aquecer um pouco mais o caldeirão dos jornalistas.”

As escolas públicas, precisam...


ser geridas como empresas.

Enquanto o Estado não assumir essa responsabilidade e proporcionar aos estudades o direito de estudarem e terem isso assegurado, o Brasil vai crescer, mas vai descer sob mesma intensidade.

O reforço vem pela educação, pelo esclarecimento e a luz do conhecimento alcançará nossas crianças e jovens.

Abaixo, um texto otimo sobre o tema, no jornal Valor Economico de hj, dia 03/04/2008
Bônus por desempenho na educação
03/04/2008


Os economistas acreditam que as pessoas querem melhorar seu bem-estar e que elas reagem a incentivos. Isto implica que, se uma parte do salário das pessoas depende explicitamente do seu desempenho, elas irão se esforçar mais para ganhar um salário maior e poder consumir mais. Se isto se aplica a todos os seres humanos, também se aplica aos professores. Com base neste raciocínio, alguns países passaram a adotar um sistema de remuneração variável para os professores de sua rede pública. Segundo este sistema, uma parte da remuneração dos professores depende do desempenho dos seus alunos em exames de proficiência.
No Brasil, este sistema está começando a ser adotado em algumas redes de ensino. Pernambuco definiu um sistema de metas para cada escola, baseadas no fluxo escolar e nas notas dos alunos nos exames de avaliação do Estado. Se as metas forem atingidas, todos os professores e funcionários da escola receberão um salário a mais no final do ano. São Paulo também está preparando um sistema parecido. Estão sendo definidas metas para cada escola, em termos de fluxo escolar e notas no Saresp (sistema de avaliação estadual). Além disto, serão levadas em conta a freqüência dos professores e a estabilidade do corpo docente na escola. Se as metas forem atingidas, todos os professores e funcionários da escola receberão um bônus no valor de até três salários. Será que sistemas deste tipo melhoram a qualidade da educação, medida pelo aprendizado dos alunos?
Como em tudo na vida, há argumentos favoráveis e contrários à adoção de sistemas de remuneração variável na educação. Os favoráveis enfatizam o fato de que os professores faltam muito e que é difícil controlar e punir as faltas, já que o sistema de abono é muito flexível. Além disto, não há incentivos para que os melhores professores se esforcem mais, pois o salário na rede pública depende apenas da escolaridade, do tempo na carreira e da coleção de certificados de formação continuada. Os contrários dizem que os professores não estão na profissão unicamente em busca de recompensa salarial e que a diferenciação de salários provoca competição entre os professores, ao invés de estimular a cooperação necessária para que o aprendizado evolua. Nesta hora, o melhor que podemos fazer é olhar as evidências empíricas. Nos locais em que sistemas deste tipo foram adotados, será que as notas dos alunos melhoraram?
Como em tudo na vida, há argumentos favoráveis e contrários à adoção de sistemas de remuneração variável na educação
As evidências dizem que sim. Existem artigos avaliando experiências de remuneração variável na Índia, Quênia, Israel e Estados Unidos (disponíveis no National Centre on Performance Incentives, Vanderbilt Peabody College). A mais completa foi realizada na Índia. Lá, duzentas escolas foram sorteadas para fazer parte de um grupo no qual os professores passaram a receber incentivos financeiros com base no desempenho dos alunos em provas de matemática e leitura. Um ano após o início do programa, a proficiência dos alunos destas escolas foi comparada com a de escolas que receberam um professor adicional para cada sala de aula, recursos adicionais para investimento ou que não receberam nada (grupo de controle). Em metade das escolas sorteadas, o prêmio para cada professor dependia do desempenho de seus próprios alunos (bônus individual) e, na outra metade, o prêmio dependia do desempenho de todos os alunos da escola (bônus coletivo).
Os resultados desta experiência foram muito interessantes. Nas escolas em que houve a introdução do bônus, o desempenho dos alunos nos exames de proficiência de matemática e leitura melhorou substancialmente com relação às escolas do grupo de controle, tanto em questões envolvendo memória como em questões envolvendo raciocínio. Houve melhora inclusive em provas não usadas para calcular o prêmio, como ciências e estudos sociais. Além disto, não houve diferença significativa de desempenho entre as escolas que adotaram o bônus coletivo e as que adotaram o bônus individual.
Mas por que o desempenho dos alunos nas escolas que adotaram o bônus melhorou? Surpreendentemente, isto não ocorreu devido a uma diminuição nas faltas dos professores destas escolas. O que aconteceu foi que os professores passaram a exigir mais lições de casa, aumentaram as provas preparatórias e deram mais aulas extras fora do horário normal de aulas. Os alunos das escolas que receberam um professor extra para cada sala e recursos adicionais para investimentos também tiveram uma melhora de desempenho, mas a relação benefício/custo dos programas de bônus foi bem superior aos demais. Nos casos de Israel e dos Estados Unidos (Carolina do Norte) as evidências também apontam para uma melhora substancial na qualidade do ensino após a introdução de sistemas de remuneração variável.
Podem surgir problemas com os programas de bônus? Sim. No caso do Quênia, por exemplo, que introduziu um programa de bônus coletivo parecido com o da Índia, o desempenho dos alunos nas escolas em que a política de incentivos foi implementada também melhorou, mas apenas durante a vigência do programa. Além disto, a melhora só ocorreu porque houve um aumento nas provas preparatórias para o exame. O desempenho dos alunos em outras provas (não ligados ao programa) não melhorou. Parece que, neste caso, os professores estavam treinando os alunos especificamente para passarem nos exames que determinavam o bônus.
Que lições estas experiências podem trazer para as nossas redes de ensino, que estão implementando programas de bônus por desempenho? As evidências de outros países são bastante animadoras. Parece que a introdução de sistemas de remuneração variável aumenta o esforço dos professores e também o desempenho dos alunos. Entretanto, temos que ter cuidado para evitar que os professores tenham um comportamento oportunista, esforçando-se apenas para que os alunos tenham um bom resultado nos exames que interessam para o bônus. Por outro lado, dado que o desempenho dos nossos alunos nos exames internacionais de matemática e leitura é tão ruim, fazer com que os professores se concentrem em ensinar estas matérias pode não ser uma má idéia, desde que os exames sejam bem elaborados.
Naércio Menezes Filho é professor de economia do IBMEC-SP e da FEA-USP e diretor de pesquisas do Instituto Futuro Brasil, escreve mensalmente às sextas-feiras e excepcionalmente hoje.

terça-feira, abril 01, 2008

Weber e a Ética Protestante


Max Weber e a ética protestante


Por Alberto Carlos Almeida, de São Paulo, no Valor de 28/03/2008


Max Weber imortalizou a teoria que mostra a diferença entre as sociedades protestantes - luteranas e calvinistas - e as sociedades católicas no que diz respeito à ética econômica. Segundo ele, a teologia protestante liberou o homem para a aquisição monetária. Para o protestantismo europeu, os homens estariam predestinados, alguns seriam salvos e iriam para o céu e outros condenados ao fogo do inferno. Isso não dependia de obras, era uma predestinação. Restava a cada homem procurar um certo consolo psicológico que o levasse a crer que seria um dos escolhidos. Essa segurança psicológica era fornecida por uma permanente glorificação de Deus por meio do trabalho.
Antes dessa doutrina, o trabalho era malvisto. Apenas aqueles que iam para os monastérios estavam assegurando a sua salvação. Os demais homens, que viviam fora dos conventos, trabalhando, quase certamente iriam para o inferno. Lutero quis ser religioso justamente para assegurar sua salvação. A sua mudança de rota, decidindo não mais seguir a carreira monástica, só poderia ser conciliada com a salvação caso ela fosse obtida por outros meios, e este seria o trabalho.
É interessante o que a doutrina luterana e a calvinista fazem - democratizam o acesso à salvação. Antes, a salvação era obtida por meio da vocação religiosa, da compra de indulgências e de outros caminhos a que nem todos tinham acesso, como a realização de obras de caridade e boas ações. Como afirmara Weber, o catolicismo da época exigia que o homem fosse para "fora do mundo" caso quisesse obter a salvação. O que Lutero e Calvino criaram foi a salvação, ou melhor, a crença de que se era um dos escolhidos por meio de ações "dentro do mundo". Muito simples: bastava trabalhar. Algo mundano, algo que todos faziam. Foi criada então a ética do trabalho. Trabalha-se, trabalha-se, cada dia mais, apenas para glorificar Deus. O trabalho gera riqueza e a riqueza é acumulada. Surge o espírito do capitalismo como resultado não intencional da ética protestante.
Mas será que foi realmente isso que aconteceu? Weber poderia ter errado? Suas evidências poderiam ter sido mais anedóticas do que realmente estatísticas? O belo estudo de Sascha O. Becker e Ludger Wossmann, "Was Weber Wrong?", dedica-se a essa questão.
Toda religião trata de diversos assuntos. Com o protestantismo não foi diferente. Comparada à do catolicismo, a ética do trabalho era diferente. Porém, o que diziam o luteranismo e o calvinismo em relação ao estudo? E em relação ao sagrado? Qualquer que fosse o assunto, o espírito do protestantismo era a democratização. O trabalho democratizava o acesso à sensação de salvação. A tradução da "Bíblia" para o alemão democratizava o acesso à palavra de Deus. A redução do número de sacramentos, dos sete da Igreja Católica para apenas dois, o batismo e a comunhão, diminuía a presença do sagrado no dia-a-dia das pessoas, o que também consistia uma mudança democrática. E assim por diante.
A "Bíblia" só existia em latim até o dia em que Lutero decidiu colocá-la no alemão. Mas seria inútil que a palavra de Deus fosse passada para a língua germânica caso as pessoas não fossem capazes de lê-la. Assim, a teologia luterana e calvinista pregava a democratização do acesso à capacidade de ler.
Sabe-se, em razão de inúmeros bons estudos acadêmicos, que o sistema educacional da antiga Prússia foi baseado na igreja luterana. Os nobres, que no catolicismo punham seus recursos financeiros no sustento de monastérios e conventos, com o seu fechamento decidiram redirecionar os recursos para educar a população. Conseqüentemente, alguns países largaram na frente quando o assunto foi a educação de toda a população: Suíça, Holanda, o território que se tornaria a moderna Alemanha e a Inglaterra. Uma curiosidade sobre a Suíça: além da valorização da "educação para todos", a teologia calvinista retirou o caráter pecaminoso da cobrança de juros. Não por acaso a Suíça saiu na frente, na Europa, na formação do sistema bancário.
Na Europa continental o desenvolvimento econômico coincidiu com o mapa da expansão do luteranismo. Sascha O. Becker e Ludger Wossmann mostraram por meio de modelos estatísticos sofisticados, mas traduzidos em mapas bastante compreensíveis, que o nível educacional e, como conseqüência, o desenvolvimento estiveram fortemente correlacionados com a força da religião reformada. No mapa 1 o xis preto mostra a cidade de Lutero. A religião que ele fundara era mais forte perto de sua cidade e mais fraca à medida que as regiões ficavam mais distantes. A área em vermelho indica que mais de 75% da população adulta era protestante no século XIX. Na área cinza a proporção de luteranos fica entre 25 e 75% e nas regiões azuis era menor do que 25%.
Não é coincidência, quando sabemos o que diz a teologia luterana acerca da necessidade de educar as pessoas e treiná-las a ler e escrever, que o mapa 2 indique a correlação entre nível de alfabetização e a popularidade do luteranismo. As áreas em vermelho mostram onde a alfabetização era maior do que 92%. Em cinza estão os locais com alfabetização entre 85 e 91% e em azul as regiões onde a taxa de alfabetização era menor do que 85%.
A religião teve impacto na educação e esta, por sua vez, teve impacto no desenvolvimento econômico. Isso é o que se vê nos mapas 3 e 4. Eles mostram o emprego no setor mais dinâmico da economia e a renda em marcos. Em vermelho estão os locais onde mais de 30% da população estava empregada na indústria e nos serviços. Em azul, onde menos de 22% trabalhavam nesses setores e em cinza, onde de 22 a 30% da população era empregada pela indústria e serviços. Mais uma vez, no mapa 4 o vermelho indica uma renda mais alta, acima de 940 marcos. Em azul estão as regiões de renda mais baixa do que 850 marcos e em cinza a renda intermediária.
Ficou provado que Weber estava errado, ainda mais quando se sabe que os autores do estudo controlaram a análise estatística por outras variáveis. Para Weber, o capitalismo e o desenvolvimento estavam correlacionados com uma ética do trabalho que só o protestantismo tinha. Para nossos modernos autores, que hoje podem lançar mão de modernas técnicas estatísticas, o desenvolvimento está correlacionado, sim, com a religião, mas não por causa da ética do trabalho - por causa da ética da educação.
Aliás, faz muito mais sentido imaginar que o desenvolvimento esteja relacionado com a educação do que com uma suposta ética do trabalho. O capitalismo não nasceu porque as pessoas passaram a valorizar mais o trabalho, mas porque passaram a ter mais qualificação para trabalhar de forma mais produtiva. Mais do que isso, o aumento do nível educacional tem impacto em outros fatores sociais também importantes: aumenta a participação política e o associativismo, facilita o desenvolvimento de diferentes modalidades de ação coletiva e assim por diante.
Isso é uma boa notícia para os países que não têm matriz católica, como é o Brasil. É mais fácil melhorar o nível educacional de um país do que fazer as pessoas valorizar mais o trabalho. Há um grande empecilho para melhorar o nível educacional do Brasil: educação não dá voto. Isso ocorre porque a população não dá valor à educação. Portanto, se avançarmos em tais indicadores isso será resultado de uma decisão da elite empresarial e governante. Aliás, um segmento importante da elite empresarial já está sentindo pesadamente o efeito da baixa qualificação de nossa mão-de-obra. A escassez desse pessoal tende a aumentar e, portanto, aumentará também a pressão do mundo dos negócios sobre Brasília e outros centros de decisão.
Em breve, sem o protestantismo como nossa matriz social, passaremos a trilhar o mesmo caminho de outros países católicos que decidiram tirar o atraso em relação aos países protestantes. Alguns exemplos são a Irlanda, a Espanha e a Itália. Portugal ainda é um dos países europeus mais atrasados no nível educacional. Quiçá o Brasil trilhará o caminho dos primeiros.

Alberto Carlos Almeida, sociólogo e professor universitário, é autor de "A Cabeça do Brasileiro" (Record)